Mudanças climáticas, desastres naturais
e prevenção de riscos

terça-feira, 29 de maio de 2012

Fotos 2011

Estão online as fotos dos eventos do ano de 2011, confira no site interativo.

Clique no link Abaixo para abrir as fotos dos eventos

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Nosso Agradecimento

    
A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de Uberlândia (SNCT - Uberlândia), desde 2009 busca sintonia com  a Semana Nacional de ciência e Tecnologia (SNCT), promovida pelo MCTI desde 2004, para mobilizar a população, em especial crianças e jovens, em torno de temas e atividades de ciência e tecnologia (C&T), valorizando a criatividade, a atitude científica e a inovação.





segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A evolução da Química como Ciência

* Valderi Pacheco dos Santos

O neto diz ao avô que precisa fazer uma prova de Química e que o assunto é sobre Átomos:

- Vô, por que temos que estudar sobre estas coisas, se nem sequer as enxergamos?

O avô responde:

- Meu neto, houve um tempo, cerca de 500 anos antes de Cristo, em uma civilização ímpar na história da humanidade - a Grécia -, que alguns pensadores, entre eles Demócrito e Leucipo, ainda que de forma meramente intuitiva, pregavam a existência de pequenas partículas indivisíveis que constituíam a matéria, os átomos. Entretanto, esses pensadores, os atomistas, não foram muito levados a sério pela grande maioria das pessoas, que achavam muito mais plausíveis as idéias defendidas por outra linha de pensadores, os socráticos, que afirmavam que a matéria era contínua. Para Aristóteles (século IV a.C), o mais famoso e influente entre os filósofos gregos, a matéria era constituída por diferentes combinações de quatro elementos fundamentais, a terra, o ar, a água e o fogo. Cada um desses elementos tinha propriedades que os caracterizavam. Assim o fogo era quente e seco; o ar era quente e úmido; a água era fria e úmida; e a terra era fria e seca. Apesar da simplicidade dessa teoria, fica claro que já havia nessa época uma noção não sobre a composição da matéria, mas sobre os estados da matéria, já que o ar eram os gases, a água os líquidos, a terra os sólidos e a forma de energia que converte um estado em outro era o fogo. Era isto que caracterizava o modo de pensar dos gregos, a substituição de interpretações mítico-religiosas da natureza pelo raciocínio lógico intuitivo, baseado exclusivamente na razão.

- Ah vô, então é por isso que o meu professor parece falar só em grego, diz o Neto.

O avô continua:

- Devido à contundência das propostas de Aristóteles, a teoria dos quatro elementos é que foi transmitida às próximas civilizações, tanto que as idéias atomistas foram deixadas de lado por mais de dois milênios. Na verdade, durante esse período, a Química, apesar de praticada por muitos, só que com outro nome, Alquimia, não era vista com caráter científico, mas com uma forte influência mística, sendo associada a bruxarias e à busca por riqueza, a partir da tentativa de converter metais menos preciosos em ouro, e por vida eterna, a partir da procura pelo elixir da longa vida. Essa influência mística dava aos alquimistas sérios problemas com a Igreja, principal poder político na Europa no período da Idade Média. Por este motivo, os praticantes da Alquimia dificilmente se declaravam alquimistas e assinavam seus escritos usando pseudônimos, bem como utilizavam uma linguagem codificada, decifrada somente por iniciados.

- Por que você acha que até hoje o cheiro de enxofre é associado ao inferno, pergunta o avô? É porque os alquimistas usavam-no muito em suas práticas secretas, juntamente com mercúrio e sal. Muitos se denunciavam pelo forte cheiro que exalavam.

A coisa só mudou a partir do século XV, quando uma nova tendência de pensamento eclodiu na Europa, o Renascimento, gerando fortes influências na política, nas artes, na filosofia, nas ciências e na religião, principalmente a partir de um pensamento mais crítico baseado na razão e no raciocínio lógico. Nessa época, algumas gerações de pensadores influenciaram todos os ramos das atividades humanas, podendo-se citar Copérnico, Galileu, Descartes, Kepler, Newton, entre muitos outros.

É nessa época, mais precisamente a partir do século XVII, que surge uma geração de estudiosos promissores que dariam à Química o status de ciência que outras áreas já haviam conquistado. Entre eles pode-se citar principalmente Robert Boyle e Antoine Lavoisier, considerados os principais responsáveis pela transição da Alquimia à Química. Ambos, em suas obras históricas, O Químico Cético (Boyle, 1661) e Tratado Elementar da Química (Lavoisier, 1789), desenvolveram métodos experimentais criteriosos, nos quais foram medidos respectivamente os volumes e as pressões dos gases e as massas das substâncias sólidas. Como consequência, muitos elementos foram descobertos durante os séculos XVII e XVIII. A partir disso, as teorias herdadas de Aristóteles e seguidas pelos Alquimistas tornaram-se ultrapassadas, assim como já havia ocorrido na Física, quando a teoria geocêntrica de Aristóteles já havia caído por terra frente à teoria heliocêntrica de Copérnico.

Apesar de muito ter-se descoberto nos séculos XVII e XVIII a respeito da composição das substâncias e sobre as proporções com que estas reagiam, não havia ainda uma teoria sólida sobre a causa das reações químicas. Nesse contexto, Georg Stahl, no principio do século XVIII, propôs uma teoria controversa e não unânime sobre as reações de combustão e de oxidação, que apesar de simplória, representou um entrave na evolução da Química por quase um século. Era a teoria do Flogístico, que afirmava que durante os processos de combustão e de oxidação, uma suposta substância invisível era liberada, o phlogiston. O mérito da teoria do flogístico, ou de seus defensores, é que estes eram capazes de interpretar uma série de processos, inclusive fenômenos estranhos à teoria.

Por exemplo, ao ser oxidado um metal ganhava massa. Stahl afirmava que o flogístico era mais leve que o ar, e que ao liberar flogístico, o ar ocupava este espaço e por isso o corpo ficava mais pesado. Porém, ainda no século XVIII, em 1781, Antoine Lavoisier demonstraria que o ganho de peso que ocorria quando um metal oxidava-se em um recipiente fechado, era equivalente à perda de peso de ar preso no vaso, e que a presença de oxigênio era imprescindível à combustão, visto que nenhum material queimava-se na ausência de oxigênio. Estas observações de Lavoisier, além de uma sucessão de outras, derrubaram de vez a teoria do flogístico, a qual teve de ser definitivamente abandonada.

Já no século XIX, com a evolução dos métodos químicos de análise pós século XVIII, um grande número de novos elementos foi descoberto. Nessa época, já se sabia que alguns deles tinham propriedades químicas semelhantes, apesar de massas diferentes. Em 1896, Dimitri Mendeleyev propôs uma tabela de classificação periódica dos elementos, onde organizou 60 dos elementos químicos conhecidos até então em 12 linhas horizontais em ordem crescente de massas atômicas, tomando o cuidado de colocar os elementos com propriedades semelhantes na mesma vertical. Era o nascimento da Tabela Periódica, praticamente da forma como a conhecemos hoje.

Outro fato importante do século XIX foi a Evolução da Química Orgânica. Nesse período, imperava na Química uma teoria proposta por Jöns Berzelius em 1807, a teoria da Força Vital, a qual afirmava que apenas seres vivos podiam produzir matéria orgânica. Ele baseava-se na idéia de que os compostos orgânicos precisavam de uma força maior (a vida) para serem sintetizados. Foi quando em 1828 Friedrich Wöhler inaugurou uma nova era na Química com a síntese da uréia (um composto orgânico) a partir do cianato de amônio (um composto inorgânico). A partir de então, a teoria da força vital começou a ruir, abrindo espaço para uma série de outras sínteses de compostos orgânicos.

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- Mas vô, pergunta o neto já impaciente, e os átomos, onde entram nessa história? Você nem falou deles!

- Calma, é a partir daqui que os átomos voltam a ocupar o intelecto humano, responde o avô. Com a definição de algumas leis que regiam as reações químicas por aquele grupo de cientistas precursores da Química moderna (entre eles Lavoisier, Boyle e Proust), John Dalton propôs no início do século XIX a existência de uma unidade mínima de matéria que poderia ser uma partícula fundamental. Entretanto, ainda não havia métodos experimentais para detectar estas partículas.

Por este motivo, por todo o século XIX as teorias atômicas não tiveram muita relevância no âmbito da Química. Nessa época, muitas teorias importantes foram desenvolvidas sem a necessidade da idéia de átomo, entre elas a Eletroquímica e a própria Química Orgânica. Alguns cientistas até recusavam-se a aceitar a idéia de átomo.

- Eu também vô, dispenso essa idéia, assim nem preciso estudar para a prova de amanhã, diz o neto.

- Preste atenção meu neto, foi só no final do século XIX, quando Joseph Thompson realizou um experimento famoso em que eletrizava um gás em uma ampola, através de descargas elétricas, que ele descobriu que os raios emitidos pelo gás eram na verdade elétrons excitados. A partir daí, os modelos atômicos passaram a protagonizar no cenário da Química, com modelos cada vez mais bem elaborados e que buscavam descrever as propriedades da matéria com precisão cada vez maior.

O interessante é que as cargas elétricas associadas às reações químicas já eram conhecidas há quase um século, por cientistas como Daniell, Volta, Faraday, mas não eram associadas a partículas fundamentais, como propôs Thompson. Apesar da revolução na ciência provocada pela descoberta de Thompson, sua proposta de modelo atômico não foi muito bem sucedida e durou menos de uma década. Isto porque propunha um átomo com cargas positivas e negativas uniformemente distribuídas.

Foi no princípio do século XX que outro grande nome da Química, Ernest Rutherford, propôs a existência de um núcleo atômico muito pequeno em relação ao tamanho total do átomo, que apresentava carga positiva. Ele observou que quando projetava partículas com carga positiva em uma chapa fina de ouro (um dos metais mais densos que se conhece), a grande maioria das partículas passava sem que sofresse desvio algum; apenas uma pequena parte se desviava; e uma parte menor ainda se chocava com a placa e retornava. Rutherford concluiu que o átomo não podia ser maciço como propunha Thompson, mas que tinha uma região densa e pequena de matéria com carga positiva (o núcleo) e que era envolto por uma região bem maior, onde ficavam as cargas negativas (a eletrosfera). A idéia de Rutherford era fantástica e representou um marco na história do estudo da constituição da matéria. Não à toa ele é considerado o Pai da Física Nuclear.

Só que o modelo de Rutherford tinha um problema: um paradoxo que contrariava as teorias clássicas da Física sobre o eletromagnetismo: partículas portadoras de carga, como os elétrons girando em torno de um núcleo, perdiam energia e teriam sua velocidade diminuída gradativamente até que caíssem no núcleo e o átomo entrasse em colapso. Estava claro que era necessária uma correção no modelo de Rutherford, e quem teve a incumbência disto foi o jovem e promissor pupilo de Rutherford, Niels Bohr.

Bohr, inspirado pelos estudos de Max Planck sobre a quantização da energia e posteriormente pelos estudos de Albert Einstein sobre a quantização da luz, propôs que quando os elétrons giravam em torno do núcleo, o faziam sem perder ou ganhar energia, como se estivessem em níveis estacionários de energia. Também propôs que quando os elétrons absorviam energia saltavam de órbitas mais internas para órbitas mais externas e ao retornarem emitiam o excesso de energia na forma de luz. Apesar da simplicidade das idéias e das fórmulas matemáticas utilizadas por Bohr para propor seu modelo atômico, elas davam a resposta numérica exata para as posições das linhas dos espectros de hidrogênio, obtidos ao longo do século XIX por Balmer, Paschen e Lyman sem saber ao certo o que significavam, o que instigava os cientistas. Por isso o modelo atômico de Bohr representou um importante pilar para o desenvolvimento de uma teoria mais elaborada que viria a ser desenvolvida e consolidada na primeira metade do século XX, a Teoria Quântica.

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Esta última, por sua vez, levava em conta dois princípios fundamentais da matéria: o comportamento dual entre partícula e onda, proposto por Louis de Broglie, e a incerteza em relação à posição quando se conhecia com precisão o momento ou a energia de um átomo ou de um elétron, descoberto por Werner Heisenberg. Destas limitações intrínsecas com relação ao que podemos observar sobre a natureza da matéria, surge uma teoria matemática refinada que descarta a idéia improvável de Bohr de que os elétrons giravam em órbitas bem definidas em torno do núcleo atômico e a substitui por densidades de probabilidade de se encontrar os elétrons em determinadas regiões do espaço, os orbitais.

Além disso, no princípio do século XX, Henri Becquerel, Marie Curie e Pierre Curie seriam os responsáveis pela descoberta e explicação do fenômeno da radioatividade ao estudarem elementos que emitiam luz espontaneamente, abrindo caminho para um vasto campo de pesquisas ao longo do século XX, cujas aplicações teriam enorme influência na história da humanidade, seja por seu uso menos nobre, como na bomba atômica que devastou as cidades de Hiroshima e Nagasaki em 1945, seja por sua principal utilização, a aplicação de radioisótopos em diagnósticos e tratamentos de câncer.

Já a teoria Quântica e o modelo atômico quântico que derivou dela são responsáveis pela maneira como interpretamos o mundo microscopicamente e pelo desenvolvimento das teorias atuais sobre as propriedades da matéria. Dois importantes nomes são responsáveis pela aplicação da teoria quântica na interpretação das ligações químicas durante o século XX, Gilbert Lewis e Linus Pauling. A partir de suas teorias, passou-se a ter uma maior compreensão sobre como a matéria interage a partir das ligações químicas, que são a base principal da descrição da natureza e de tudo que envolve suas transformações.

- Tudo isso já no século em que eu nasci. Pra ver meu neto como seu avô é velho!

- Vô, o senhor que é velho ou será a Química que é nova demais? Argumenta o neto.

Para saber mais:

CHASSOT, A. Ciência através dos tempos. 2ª. ed. São Paulo: Editora Moderna, 2004.

GREENBERG, A. Uma Breve História da Química: Da Alquimia às Ciências

Moleculares Modernas. 1ª. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2009.

FARIAS, R. F. Para gostar de ler: A historia da Química. 1ª. ed. São Paulo: Editora

Átomo, 2003.

VANIN, J. A. Alquimistas e Químicos: o passado, o presente e o futuro. São Paulo:

Editora Moderna, 2005.

GLEISER, M. Mundos Invisíveis. São Paulo: Globo, 2008.

STRATHERN, P. trad. BORGES, M. L. O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história

da química. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.

* Valderi Pacheco dos Santos é professor de Química da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).

Fonte:
Jornal da Ciência.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Pesquisadores desenvolvem jogo sobre sustentabilidade

O Centro Multidisciplinar para o Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP – e o Instituto Nacional de Ciências dos Materiais em Nanotecnologia lançaram na internet, em parceria com a empresa Aptor Games, um jogo educativo sobre sustentabilidade.

Batizado de Half na Floresta, o jogo foi criado pela mesma equipe que desenvolveu o Ludo Educativo – um game on-line que auxilia estudantes do ensino médio no aprendizado de ciências – e o Jogo da Dengue.

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No novo jogo, o personagem Half percorre uma floresta a fim de cumprir objetivos que giram em torno de ações para a preservação do meio ambiente.

Cada uma das jogadas aborda uma questão diferente sobre conservação ambiental. Na primeira fase, o personagem deve ajudar a libertar os animais em extinção que foram capturados ilegalmente, como araras e macacos, sempre atento para escapar das investidas dos animais perigosos que perambulam pela floresta.

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Já na segunda fase, o personagem necessita plantar árvores e superar a ação de lenhadores encontrados pelo caminho.

O jogo pode ser acessado gratuitamente na internet em www.ludoeducajogos.com.br.

Fonte: Agência Fapesp.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia: pontos estratégicos para o desenvolvimento nacional

* Valdir Lamim-Guedes

A Ciência e Tecnologia (C&T) são responsáveis por melhorias na qualidade de vida da humanidade, sobretudo nos últimos séculos. Com avanços nestas áreas, obtivemos um melhor acesso à saúde, segurança alimentar e um grande espectro de facilidades, como meios de transporte e de comunicação.

A história dos Países mais desenvolvidos socioeconomicamente deve-se, em parte, ao fato de terem colonizado outros locais, possibilitado pela capacidade de dominar outros povos e comercializar com outras nações. Isto dependeu, por exemplo, de novas técnicas de plantio e beneficiamento da cana de açúcar, a capacidade de transportar mercadorias e ter exércitos eficientes. Estas características dependeram da existência de avanços científicos que refletiram em um número considerável de pessoas capacitadas e na aplicação do conhecimento cientifico na criação e aprimoramento de tecnologias, um exemplo neste caso, é a possibilidade de fazer mapas detalhados e ter embarcações eficientes e seguras. Nesta linha de raciocínio, a revolução industrial, foi fruto do avanço tecnológico na produção de tecidos, que deixou de ser artesanal e passou a ser manufaturada.

Conclui-se que investimentos em C&T foram estratégicos para o desenvolvimento dessas nações. Muitas decisões políticas são mediadas por um debate baseado em evidências cientificas e disponibilidade de tecnologias. No caso do Brasil, o debate acirrado em torno de questões ambientais tem utilizado de muitas informações no âmbito da C&T.

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Ruralistas e outros setores da sociedade afirmam que a expansão da área agrícola é essencial para o País continuar crescendo, e por causa disto, foram propostas alterações no código florestal, atualmente em trâmite no senado. Do outro lado, ambientalistas argumentam que as exigências do código florestal de 1965 são adequadas, e insistem que a manutenção das florestas é importante pela manutenção da biodiversidade, dos serviços ambientais e que as áreas florestais podem gerar renda, por exemplo, com a extração de produtos como frutos, sementes e óleos. E ainda, apontam que a utilização adequada das terras utilizadas pela agropecuária é o suficiente para a expansão da produção agrícola sem derrubar mais nenhuma árvore.

Este debate envolve o planejamento a curto, médio e longo prazos, e é justamente por focar apenas no curto-médio prazo (ruralistas) ou preocupar-se com o longo prazo (ambientalistas) que parece existir uma polêmica sem solução. Tal polêmica consiste na existência de uma falsa dicotomia entre desenvolvimento econômico e proteção do meio ambiente, e um ponto de equilíbrio é possível ao utilizar a C&T.

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O desenvolvimento de novas tecnologias e diversificação da produção agrícola, a redução dos impactos ambientais e a reforma agrária são aspectos que fazem convergir desenvolvimento e meio ambiente. Um exemplo disto seria uma mudança de olhar sobre as florestas, ou seja, produtos florestais geram renda, como é o caso de óleos essenciais que são utilizados pela indústria de cosméticos, assim como o pagamento por serviços ambientais e créditos de carbono podem complementar a renda das famílias.

O triângulo da sustentabilidade consiste na existência de um desenvolvimento econômico que agride pouco o meio ambiente e que apresente avanços sociais. Para obter uma configuração destas, é necessário a valorização e investimentos em C&T. O modelo econômico adotado atualmente está baseado na exploração de matérias-primas e produtos agropecuários (minérios, soja e carne), geralmente com pouco valor agregado.

Assim, para a obtenção de avanços reais e duradouros, é necessário investir fortemente em C&T, na formação de profissionais de diversas áreas e na melhoria da qualidade de vida com redistribuição de renda, evitando ao máximo a degradação ambiental. Isto é que permitirá ao Brasil ser considerado um país desenvolvido, dada à nova configuração internacional.

* Valdir Lamim-Guedes é mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia de Biomas Tropicais da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

Fonte: Jornal da Ciência.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Novos radiotelescópios permitirão estudos inéditos sobre explosões solares

Um grupo brasileiro de cientistas liderou a instalação de um sistema de dois radiotelescópios polarimétricos solares na Argentina, no dia 22 de novembro. Os instrumentos são os únicos no mundo a operar em frequências entre 20 e 200 gigahertz, preenchendo uma grande lacuna que impedia o estudo de vários aspectos relacionados às explosões solares.

O projeto “Telescópios de patrulhamento solar em 45 e 90 GHz com polarização”, financiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, é coordenado por Adriana Válio, professora da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e por Pierre Kaufmann, coordenador do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (Craam).

Os instrumentos serão operados no âmbito de um convênio que envolve, há 11 anos, cientistas do Craam e do observatório do Complexo Astronômico El Leoncito (Casleo), localizado em San Juan, na Argentina – onde os radioteslescópios foram instalados, alinhados e já começaram a operar.

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De acordo com Kaufmann, os dois radiotelescópios para ondas milimétricas permitirão a realização de observações, respectivamente, em 45 e em 90 gigahertz.

“São os únicos radiotelescópios do gênero existentes em operação no mundo. Suas medições complementarão espectros de explosões solares observadas em frequências mais elevadas feitas no Casleo – entre 200 e 400 gigahertz – e em frequências mais baixas do que 20 gigahertz, obtidas em instrumentos instalados nos Estados Unidos”, disse Kaufmann à Agência FAPESP.

A lacuna na faixa de frequências de 20 a 200 gigahertz não apenas tem limitado os estudos sobre determinados parâmetros das explosões solares, como tem trazido grandes complicações para a interpretações dos resultados obtidos nos instrumentos existentes.

“Trata-se de uma faixa muito crítica sobre a qual a comunidade científica não dispõe de informações. Os novos instrumentos deverão trazer informações cruciais para a interpretação das explosões solares”, disse.

Os radiotelescópios terão a função de estudar mecanismos de conversão e produção de energia por trás das explosões solares. “Embora atualmente seja possível assistir com riqueza de detalhes às espetaculares ejeções de massa das explosões solares, o fenômeno físico que dá origem a todas essas manifestações é desconhecido”, explicou.

Além da relevância científica, o estudo do mecanismo energético das explosões solares, segundo Kaufmann, é importante também por causa de seus subprodutos que têm impacto no planeta Terra, alterando o chamado “clima espacial”.

“Embora não tenhamos detalhes sobre a física das explosões solares, é certo que esses fenômenos têm forte impacto no clima terrestre. Essas explosões liberam imensas quantidades de energia, interagindo com o espaço interplanetário e com a Terra”, disse.

Explosões e efeitos

Segundo Válio, os dois radiotelescópios terão papel complementar em relação aos outros instrumentos do Casleo – com frequências de 200 a 400 gigahertz –, instalados a 60 metros de distância em El Leoncito, e instrumentos nos Estados Unidos, operados em frequências abaixo dos 20 gigahertz. O conjunto das medições oferecerá um quadro completo da atividade solar, do nível de microondas até o submilimétrico.

“Os dois novos radiotelescópios observam todo o disco solar com elevada resolução temporal de 10 milissegundos, proporcionando grandes quantidades de dados em função do tempo. Quando terminarem todas as calibrações, os instrumentos irão operar praticamente de forma remota, observando o Sol diariamente e disponibilizando os dados na internet”, explicou.

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Os radiotelescópios custaram 165 mil euros e a instalação teve orçamento de US$ 25 mil. Embora o custo não seja alto para instrumentos desse tipo, eles não haviam sido construídos ainda porque a fabricação de seus receptores exigia um grande esforço de desenvolvimento tecnológico.

“Outro fator que torna esses instrumentos exclusivos, além das frequências em que operam, é a capacidade de medir polarização. A emissão de energia do Sol é térmica e não polarizada. Mas uma explosão envolve elétrons acelerados a altas energias que espiralam em torno de linhas magnéticas com uma direção preferencial – o que faz com que sua emissão acabe sendo polarizada”, disse Válio.

Com a polarização, segundo ela, é possível distinguir as explosões solares – mesmo as que são muito pequenas – de efeitos atmosféricos. “Vamos poder investigar fenômenos que nos darão informações sobre como os elétrons são injetados no campo magnético da explosão”, disse.

Fonte: Agência Fapesp.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Mulheres são as últimas a terem acesso a fundos climáticos

Dos milhões de dólares destinados a projetos para conter os efeitos da mudança climática no mundo em desenvolvimento, muito pouco é concedido de maneira a beneficiar as mulheres, as mais prejudicadas pelo aquecimento na África. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres constituem 80% dos pequenos agricultores, são responsáveis pela segurança alimentar de milhões de pessoas e trabalham em um dos setores mais afetados pela mudança climática.

“Fala-se muito no âmbito internacional em destinar fundos para que as comunidades locais possam adaptar-se à mudança climática e, em especial, as mulheres, mas é pouco o que se faz”, disse Ange Bukasa, que dirige a organização ChezAnge Connect, na República Democrática do Congo (RDC), dedicada a facilitar investimentos.

Bukasa participa da Associação dos Fundos de Investimento no Clima (CIF). Esses fundos, criados pelo Banco Mundial em colaboração com bancos de desenvolvimento regionais, oferecem cursos para que os países do Sul tomem medidas de adaptação e mitigação. Desde seu lançamento, em 2008, foram concedidos US$ 6,5 bilhões a projetos destinados a conter a mudança climática em 45 nações em desenvolvimento. Mais de um terço foi concedido a 15 países africanos.

Porém, mais de 70% foram para projetos de transporte e energias limpas em grande escala, setores da economia formal tradicionalmente dominados por homens. Apenas 30% foram destinados a projetos de pequena escala que beneficiam diretamente comunidades rurais pobres e que podem chegar a melhorar o sustento das mulheres. Especialistas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento alertam que esses fundos correm o risco de perpetuar os desequilíbrios de gênero existentes.

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Quando se quer criar e implantar ações para adaptação e combate à mudança climática, é necessário consultar as mulheres para levar em conta a perspectiva de gênero no consumo de energia e os modelos de trabalho doméstico em contextos pobres, insistem os especialistas. Entretanto, isto não ocorre com frequência.

“Não há relação entre as grandes instituições regionais que administram os fundos e a população que deles precisa”, alertou Bukasa, que trabalha com agricultores em Katanga, no sul da RDC, e em outras partes do país. Bukasa também se queixou da falta de consulta às mulheres, que são maioria na pequena agricultura da região. Além disso, afirmou que grande parte das comunidades rurais não tem informação suficiente sobre a mudança climática e como mitigá-la ou adaptar-se às consequências.

“As pessoas podem ter ouvido falar de mudança climática, mas não têm ideia do que fazer nem onde obter informação”, acrescentou Bukasa. Isto as impede de identificar problemas e soluções, desenvolver seus próprios projetos e solicitar fundos. Sua única opção é “continuar cultivando como antes”, acrescentou.

A informação oferecida por especialistas que trabalham no terreno teve algumas consequências. Os bancos que gerenciam os CIF prometeram incluir indicadores de gênero em suas operações, bem como em seus principais critérios para concessão de fundos. Também se comprometeram a incluir análise de gênero e dados discriminados por sexo, entre outros, nos projetos financiados pelos CIF para garantir o benefício a homens e mulheres.

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“Planejamos dar maior atenção a questões de gênero e introduzir cada vez mais indicadores para avaliar essa dimensão nos projetos”, informou Mafalda Duarte, coordenadora de finanças do clima do Banco de Desenvolvimento Africano, uma das instituições regionais responsáveis por administrar os fundos. Há um interesse particular em financiar fontes de energia locais não conectadas à rede nacional para melhorar a vida de mulheres e meninas, ainda angustiadas por terem de coletar lenha e buscar água nas comunidades rurais, ressaltou Duarte.

Os fundos destinarão a projetos de energia solar, fogões melhorados, reflorestamento sustentável, sistemas de irrigação que funcionem com energia solar, bem como calefação e armazenamento de água. “Quando revisarmos as propostas vamos assegurar que as mulheres tenham acesso a tecnologias financiadas”, acrescentou Duarte. O único inconveniente é que o interesse está em investimentos de pequena escala, que representam uma porcentagem menor do total de fundos disponíveis. “Precisamos ampliar a quantidade de projetos com perspectiva de gênero porque temos muitos lugares conflituosos no continente”, reconheceu Duarte.

Florah Mmereki, diretora de projeto da Wena Industry and Environment, fundação dedicada à educação ambiental, com sede em Gaborone, Botsuana, concorda que é preciso acelerar os esforços. “Os poucos projetos que existem em Botsuana não estão dirigidos às mulheres. É um enorme descuido”, lamentou. As mulheres continuam excluídas porque sua participação em muitos projetos de adaptação à mudança climática costuma exigir um investimento inicial, como a contribuição para fogões de baixo consumo de lenha, disse Mmereki. “Mas as camponesas não têm esses fundos. Elas trabalham no campo e são seus maridos que administram o dinheiro. Ainda há muitas barreiras para eliminar”, acrescentou.

Fonte: Envolverde.



 
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